Ideologia transgênero

Ideologia transgênero é um termo abrangente que se refere às filosofias, visões de mundo e declarações às quais ativistas políticos que tentam defender os direitos humanos de pessoas transgênero aderem. O movimento político que tem por objetivo promover essas ideologias é chamado de movimento transgênero.

A prática de defender a ideologia transgênero é chamada de ativismo transgênero (frequentemente encurtado para ativismo trans) e a pessoa que segue essa prática é chamada de ativista transgênero (frequentemente encurtado para ativista trans). A palavra "transgênero" no termo "ativismo transgênero" não deve ser entendida como um adjetivo da pessoa em questão (i.e. "um ativista que por acaso é transgênero"), mas como uma referência ao ativismo que essa pessoa pratica (i.e. "um ativista que apoia a ideologia transgênero"). Muitos ativistas trans não são pessoas transgênero.

Feministas costumam usar o termo ideologia transgênero com um tom crítico ao apontar os aspectos sexistas, homofóbicos, ou de outra forma problemáticos do movimento transgênero. Aqueles que apoiam o movimento tendem a ser contra o termo, comparando-o com a expressão agenda homossexual, que é usada para descrever as supostas intenções malignas de ativistas pelos direitos gays/lésbicos/bissexuais. De fato, organizações da direita política e cristãs usam constantemente o termo ideologia transgênero em suas publicações que são críticas do movimento. No entanto, seus motivos para oporem-se a ela costumam ser radicalmente diferentes dos motivos das feministas.

O termo ativista de direitos trans (encurtado para TRA, da sigla em inglês para "trans rights activist") é às vezes utilizado por causa de sua similaridade com o termo ativista de direitos dos homens (encurtado para MRA, da sigla em inglês para "men's rights activist"). Assim como os tão chamados MRAs alegam apoiar os direitos humanos dos homens mas acabam culpando as mulheres por tudo e opondo-se ao feminismo, os TRAs alegam apoiar os direitos humanos de transgêneros mas acabando culpando as mulheres por tudo e opondo-se ao feminismo.

Aspectos

Mulheres trans são mulheres

Um dos dogmas centrais do movimento transgênero é a declaração de que mulheres trans são mulheres (a também a menos frequentemente repetida homens trans são homens).[1] Sob essa visão é importante escrever mulher trans como duas palavras (substantivo e adjetivo) e não mulher-trans, para acentuar o fato de que as tão-chamadas mulheres trans são literalmente um subtipo de mulheres, assim como mulheres brancas, mulheres negras, mulheres baixas, mulheres altas e assim por diante. A declaração de que "mulheres trans são mulheres" não deve ser tomada como um lema para apoio moral, e sim em seu sentido literal.[2][3]

Como a declaração contradiz a definição do dicionário da palavra "mulher" (humano adulto [sexo|do sexo feminino]), a declaração implica que uma definição diferente seria mais adequada. Quando perguntados sobre isso, ativistas transgênero normalmente evitam fornecer uma definição real. A maior parte das tentativas tendem a se relacionarem a uma definição circular, como "todas as pessoas que se identificam como mulheres são mulheres". Sendo assim, a declaração "mulheres trans são mulheres" é provavelmente melhor descrita como sendo um dogma.

A ideia de que mulheres trans são literalmente mulheres serve como base para muitas conclusões problemáticas, como: mulheres trans deveriam ter o direito de participar de esportes femininos,[4] mulheres trans deveriam serem vistas como potenciais parceiras por lésbicas (ver também: cotton ceiling),[5] mulheres trans deveriam ter o direito de usar todas as acomodações para mulheres, entrar em espaços e eventos exclusivos para mulheres, falar sobre direitos das mulheres como mulheres e assim por diante.[3]

Identidade de gênero

A ideia de que "mulheres trans são mulheres" é normalmente defendida por uma crença numa "identidade de gênero" básica, inata e imutável que toda pessoa supostamente possui.[6] Mulheres trans são ditas serem mulheres de verdade por alegadamente possuírem uma "identidade de gênero feminina", a qual é dita ser compartilhada com as mulheres. Da mesma forma, homens trans possuem uma "identidade de gênero masculina" que é supostamente compatilhada com todos os homens.

Assim como ativistas transgênero recusam-se a fornecer uma definição objetiva do que é ser mulher, eles costumam recusar-se a definir o que é identidade de gênero em termos objetivos. Normalmente, ao explicar como uma pessoa descobriu a própria identidade de gênero, referências a estereótipos sexistas do que é feminilidade e masculinidade são frequentemente feitas. Quando diretamente confrontados, no entando, ativistas transgênero negam a noção de que identidade de gênero seja baseada inteiramente nesses estereótipos. Como não há nenhuma medida objetiva para isso, eles são de fato forçados a aceitar as declarações de toda e qualquer pessoa quanto a qual é a sua própria identidade de gênero. Logo, vemos mulheres trans com barba e anatomia masculina intacta, que são ditas serem iteralmente mulheres como qualquer outra.[7][8]

Crianças transgênero

Como identidade de gênero é dita ser inata, segue-se que algumas crianças seriam transgênero, e apenas precisariam descobrir isso. Assim que descoberto, o único jeito de se proceder seria apoiar a identificação transgênero dela. Isso leva à abordagem de ativistas transgênero de "afirmação exclusiva" com relação a jovens, onde por exemplo, se um garoto disser "eu queria ser uma garota" ou "eu sou de fato uma garota" ele será a partir daquele momento tratado como se fosse literalmente uma garota. (Receber um nome feminino, ser referido através de pronomes femininos, pedir para ser considerado uma garota pelos outros e assim por diante.) De maneira análoga são tratadas garotas que expressam querer ser garotos ou que alegam serem no fundo garotos. Ativistas trans opõe-se à abordagem de "espera assistida".

A abordagem de "afirmação exclusiva" foi apoiada pela Academia Americana de Pediatria (AAP).[9] Pais e mães preocupados com esse modelo de tratamento publicaram uma longa crítica e lançaram uma petição que alcançou 1200 assinaturas.[10] O psicólogo James Cantor também publicou um artigo com correção de fatos criticando a decisão da AAP.[11]

Ativistas trans normalmente apoiam o fornecimento de medicações supressoras da puberdade, como o Lupron, a crianças que acham que são transgênero.[9] Algumas dessas crianças têm apenas 10 anos de idade.[12]

Pessoas cisgênero oprimem pessoas transgênero

Outro princípio central da ideologia transgênero é a noção de que pessoas cisgênero oprimem pessoas transgênero, assim como homens oprimem mulheres, brancos oprimem negros, ou como pessoas heterossexuais oprimem homens gays e mulheres lésbicas.[13][14] Sendo assim, quando um homem se identifica como uma mulher trans, a sua posição em relação às mulheres torna-se de ser o seu opressor a ser alguém que é oprimido. O seu privilégio masculino é negado, já que ele agora é considerado como sendo uma mulher, e o fato de que ele é uma mulher transgênero significa que ele é oprimido por mulheres cisgênero. Além disso, ao ser tanto uma mulher quanto transgênero, ele agora seria considerado como sofrendo por dois eixos de opressão, da mesma forma como mulheres negras sofrem tanto racismo quanto sexismo. Dessa maneira, um homem branco subitamente torna-se comparável a uma mulher negra com respeito às dinâmicas de poder opressivas da sociedade.

Através do princípio da interseccionalidade (apropriado do feminismo negro), ativistas transgênero frequentemente alegam que o movimento feminista deveria não só incluir as preocupações das mulheres trans, como também centralizá-las em muitas discussões, já que de outra forma o movimento feminista fracassaria em discutir as suas preocupações de maneira satisfatória.

Conluio com o ativismo de "trabalhadoras do sexo"

Por razões ainda não inteiramente claras, muitos (senão a maior parte) dos ativistas transgênero também parecem apoiar o movimento de "trabalhadoras do sexo".[15] Possíveis razões para esse conluio são:

  • Ambos os movimentos provirem da ideologia queer, que é baseada na transgressão de normas socias sem consideração a preocupações éticas;
  • O movimento transgênero ser dominado por homens autoginefílicos, que estão interessados em apoiar uma sociedade na qual mulheres existem para o prazer sexual masculino;
  • Anti-feministas apoiarem tanto o movimento transgênero quanto o movimento de "trabalhadoras do sexo", simplesmente por verem esses dois movimentos como armas contra a liberação das mulheres.

Ver também

Referências

  1. Alicia Hendley (April 10, 2019). I supported trans ideology until I couldn’t anymore. Feminist Current.
  2. Carol Hay (April 1, 2019). Who Counts as a Woman?. The New York Times.
  3. 3,0 3,1 The truth about trans. Stonewall.
  4. Alan Dawson (April 17, 2019). The biggest thing critics continually get wrong about transgender athletes competing in women's sports. Business Insider.
  5. Miranda Yardley (December 9, 2018). Girl Dick, the Cotton Ceiling and the Cultural War on Lesbians and Women. Medium.com.
  6. Understanding Gender. Gender Spectrum. "According to the American Academy of Pediatrics, “By age four, most children have a stable sense of their gender identity.” This core aspect of one’s identity comes from within each of us. Gender identity is an inherent aspect of a person’s make-up. Individuals do not choose their gender, nor can they be made to change it."
  7. James Michael Nichols (July 25, 2015). This Incredible Trans Woman Is Challenging The Way We Think About Gender.
  8. Sessi Kuwabara Blanchard (January 29, 2019). The Ins and Outs of Topping as a Trans Girl.
  9. 9,0 9,1 Perri Klass (October 15, 2018). Helping Pediatricians Care for Transgender Children. The New York Times.
  10. Parents petition American Academy of Pediatrics in response to policy statement on trans-identified youth. 4thWaveNow. October 29, 2018.
  11. James Cantor (October 17, 2018). American Academy of Pediatrics policy and trans- kids: Fact-checking. Sexology Today!.
  12. Puberty blockers. Transgender Trend.
  13. Sian Ferguson (March 21, 2014). 3 Examples of Everyday Cissexism. Everyday Feminism.
  14. Laura Kacere (January 27, 2014). Transmisogyny 101: What It Is and What Can We Do About It. Everyday Feminism.
  15. Julie Bindel (October 2, 2017). The pact between trans rights advocates and the sex trade lobby. Feminist Current.